Criticando Aprazível

Na saideira desse ano, fiz as pazes com Santa Teresa. Depois da tarde de bangue-bangue que encarei no mês passado, voltei ao "local do crime", dessa vez, bem mais confortável nesses tempos de Rio pacificado. Fui almoçar no Aprazível, restaurante que vem se firmando como um dos melhores de cozinha brasileira. E que ao longo de mais de uma década só fez melhorar. Proeza das boas em se tratando de um bairro como Santa. Há tempos não ia à casa da chef mineira Ana Castilho, que toca o negócio juntamente com os filhos Pedro e João. Há sempre um "Castilho" por perto, razão pela qual a casa funciona tão afinada por tantos anos. O lugar está mais bonito do que nunca, agora com palafitas espalhadas pelo terreno arborizado, lindamente decorado. A cozinha segue a linha de sempre: simples, bacana e brasileira. A carta de vinhos idem, com uma inédita seleção de rótulos brasileiros excepcionais, garimpados pelo sommelier americano Jonathan "Mondovino" Nossiter. Vale reservar alguns minutos para explorá-la da melhor forma. Merece. E é única. Ficamos em uma das tendas com toras e cobertura de sapê, debruçada para um Rio que vejo pouco: Central do Brasil, Ponte, Maracanã... E brindamos à vida com as borbulhas bacanérrimas do nacional Vallontano Brut (R$ 75), que não conhecia. Pedimos casquinha de caranguejo catado com farofa de farinha d'água por cima (R$ 28) e um mix de pastéis de queijo da Serra da Canastra e de linguiça artesanal mineira, para molhar no chutney de tomate (R$ 19). Começo triunfal. De principal, nos dividimos entre a muquequinha de gurijuba no molho de coco, pirão de peixe e farofa de dendê (R$ 51); a tilápia temperada com azeite de coentro, baião de dois e quiabo al dente (R$ 48), e o peixe tropical, grelhado, com molho de laranja, arroz de coco com castanha de caju e banana-da-terra assada (R$ 62). Sou só elogios. E o Aprazível ainda tem uma das práticas mais simpáticas adotadas pelos melhores restaurantes europeus: no lugar de garrafas plásticas, a água servida ali é a da casa, filtrada e segura. Aprendi que isso é que é modernidade à mesa. O resto é marola.