Criticando Oro

Depois da experiência no melhor restaurante do mundo, o Noma, em Copenhague - onde comi mexilhões de 35 anos, provei espuma de leite seca e fritei um ovo na mesa -, andava meio reticente de encarar outra rodada do gênero. Puxei o saldão do ano e achei que estava de bom tamanho a minha cota experimental de 2010. E no Oro, do chef Felipe Bronze, as fortes emoções à mesa eram pule de dez. Resisti o quanto deu. E não deu muito. Afinal, difícil (e displicente da minha parte) seria ignorar uma casa como o Oro, um belo espaço projetado por Miguel Pinto Guimarães, com um timaço no salão (o experiente Raul De Lamare e a sommelière argentina Cecília Aldoz, ex-eñe, ambos elegantíssimos) e com Bronze de volta aos holofotes. Daí, fui jantar sem reservas, numa noite mixuruca, e me deparei com a casa lotada. Quase sobrei. Pedimos o serviço de dez pratos (R$ 155), que começou pela tempura de ovo de codorna com ar de trufas, seguida de tartare de salmão defumado a frio com manga e "ovas" de tangerina e profiteroles de queijo com licuri (castanha brasileira) caramelado. Todos servidos em porções pequenas, que chegaram como embrulhadas para o Natal. O duo de foie gras veio em seguida: um com maracujá e granola crocante e outro com açaí salgado, banana confit e farofa gelada de foie gras. Inédito. Depois, "mar": cavaquinha com baru (castanha do Centro-Oeste) e espuma de coco; lagostins com purê frio de pistache, pupunha e alcachofra frita por cima. Por mim, parava por aqui (sabe quando você percebe que seu estômago está feliz da vida?), mas ainda rolou tartare de mignon com gema de parmesão e fumaça de churrasco; rabada confit em baixa temperatura; costela de boi 36 horas servida com espuma de leite de castanhas e trufas, e a rodada de sobremesas em torno de um tema só: chocolate. E fumaça de hidrogênio (que vi no El Bulli há tempos). Mas fez o seu papel. Nosso jantar no Oro foi um espetáculo e tanto.