Criticando Satyricon

Não é todo restaurante que consegue manter a excelência de sua cozinha com o passar dos anos. O chef costuma partir, o serviço desandar, o cardápio degringolar... E, aí, aquele risoto de frutos do mar inesquecível pode virar um pesadelo, num eventual revival. Constância está longe de ser o forte das casas do Rio. É proeza para poucos, caso do Satyricon, que há quase três décadas segura a onda. E que onda. Fazia tempos que não ia à casa. Coisa de quatro, cinco anos e, impressionantemente, muito pouco mudou. E o que mudou foi para melhor. A adega está no salão e a bancada de peixes ganhou um sushibar. No mais, tudo na mesma, felizmente. Daí, se o cantor Sting, que já comeu ali quatro vezes, quiser repetir o pargo no sal grosso da casa, o.k.: ele vai chegar igualzinho, como em 2000. O peixe, não o Sting, que, de lá para cá, convenhamos, perdeu muito (especialmente fios de cabelo). As ostras que Madonna adorou também chegarão carnudas como sempre. Madonna também. O marenostrum, uma seleção de carpaccios de peixes servidos na bandeja giratória, continua único. Não existe nada parecido no Rio: atum, salmão, robalo, pargo, olho-de-boi e tartare de atum e salmão. Custa R$ 159 e serve três muitíssimo bem. Acompanhamos com torradinhas transparentes, bebericando um pinot grigio fresquinho. Dia ganho de cara. Estive ali convidada por Bety Orsini, companheira de jornal, e Jorge, amigo de muitos anos, que, gentilmente, pagou a conta das moças. Bety foi de risoto arbóreo, no ponto, com camarões, nacos de lagostas e lagostins, cavaquinha e folhas de rúcula selvagem (R$ 89), gostoso até o fim, mesmo já meio frio. Jorge pediu o de sempre e que sempre chega igual (tem coisa melhor?): o tal pargo envolto no sal grosso com arroz de açafrão (R$ 60). Eu, que me fartei no marenostrum e belisquei o de todos, não passei da porção de ostras (R$ 26). Almoço impecável, sem qualquer senão. O Satyricon é daquelas casas que resistem ao tempo. E a todas as eventuais intempéries.