Criticando Sapataria da Pizza

Sapataria da Pizza. Passei minha infância, especialmente minhas férias, comendo pizza caseira. Minha mãe tinha aprendido a receita da massa no rótulo do fermento Fleischmann e daí, dia sim e outro também, rolava pizza (acho que de sardinha, tadinhos de nós) lá na Granja Guarani, em Teresópolis. Eram gostosas, só não eram pizzas. Anos depois, foi a minha vez de impressionar a garotada: fazia uma versão perfumada, a base de cream cracker (tadinhos deles), que fazia enorme sucesso. Mas também não eram pizza. Felizmente, nós duas acabamos nos esquecendo delas para sempre. Esses recuerdos são para dizer que o que a nova Sapataria da Pizza levou para Ipanema pode até agradar, mas também não é pizza não. Para quem ainda não viu e nem ouviu falar da casa, trata-se da primeira filial de uma rede que exibe essa marca estranhíssima por vir de Franca, a terra dos calçados, em São Paulo, capisce? Mais: todas as versões dali aparecem no cardápio batizadas com nomes como Chuteira (banana, canela, açúcar e caramelo, R$ 22,50), Luís XV (tomate, alcaparra, cogumelo, rúcula e mozarela de búfala, R$ 35,60) e Sandália (sonho de valsa, morango e chocolate, R$ 22,50). Francamente... E agora vou chutar: não sei se por aqui isso é uma boa ideia... Mas o maior diferencial da casa são as suas fornadas que, na verdade, não são fornadas. São paneladas. As pizzas da Sapataria são assadas em panelas de ferro, na boca do fogão, uma receita familiar que remonta ao século XIX, há dez anos resgatada de um baú esquecido no porão. A historinha completa está no panfleto que nos é entregue juntamente com o cardápio. Ok, a gente acredita. Mas o que pega mesmo nessa história toda é a massa de Franca, que não tem gosto de pizza, não tem consistência de pizza, não tem aparência de pizza e muito menos tem nome de pizza... Se é gostosa? Até é. Só não é pizza.