Criticando Intihuasi

Desde que pedi fromage de tête num restaurante parisiense e o garçom me trouxe um estranhíssimo patê feito com pedacinhos de carne da cabeça de porco (como é que eu podia adivinhar que fromage, nesse caso, não era queijo, e sim um patê, mon Dieu ?), que, na dúvida, passei a pedir o certo e seguro quando me deparo com um cardápio cheio de objetos não identificados. Foi assim com o Intihuasi , o único restaurante de cozinha peruana da cidade, onde nomes como rocoto s, tamal , yuacas e carapulcras saltaram logo aos meus olhos. Tremi na base. E agora? O que faço dessa vida sem um tradutor (ou um peruano) por perto? Cravei no único prato familiar: o Circuito de Cebiches, um mix com cinco variações de ceviches (R$ 42) - vieiras, polvo, badejo, camarão e cogumelos - fresquinhos e bem temperados, servidos separadamentes e escoltados por batata-doce e milho cozidos. A noite estava ganha. Aberto há três anos numa pequena loja do Flamengo (tem apenas 30 lugares), o Intihuasi só não tem frescura. No mais, tem de tudo que seja genuinamente peruano. Margarita Sayan, chef Cordon Bleu graduada pela única filial latina da escola francesa, em Lima, não faz concessões. Nem substituições. Usa ingredientes que chegam de seu país, como os muitos tipos de milho, mais de 30. O que não chega, ela planta em seu sítio, como a huacatay, ervinha que está em todas. Depois do ceviche, me aventurei a provar alguns aliens do cardápio, como tamal , versão andina da nossa pamonha; carapulcra , batatas desidratadas e crocantes; conchitas con chifles , tira-gosto de milhos andinos (vários deles) tipo "pipoca" (mas que não espocam jamais!), crocantes, salgadinhos e servidos com chips de banana também salgada (R$ 6). Há outras tantas curiosidades no cardápio dali: feijão preto (na sobremesa), quinua (fazem de refresco a doce), queijo coalho (assim ó com o queijo curado andino)... Para beber, além do pisco sour (R$ 9) e de alguns vinhos sul-americanos, tem chicha morada (R$ 5), o milho que virou suco. O Intihuasi vingou, emplacou e, para tanto, não precisou mudar uma quinua sequer: continua mantendo a culinária peruana nas alturas. Literalmente.