Criticando Bar do Lula

Já imaginou, caro leitor, lançamento de livro em boteco? Fernando Pessoa, Bocage e Eça de Queiroz em meio a ampolas de cerveja, bolinhos de bacalhau e camarão com Catupiry? Pois isso acontece, de quando em vez, no balcão de um pé-sujo bacana no Bairro Peixoto, em Copacabana. É no bar do cearense Lula que uma pequena editora estabelecida no bairro lança suas reedições de clássicos da língua portuguesa. O último foi "Charneca em flor", da poetisa portuguesa Florbela Espanca. Nessas ocasiões especiais, o balcãozinho discreto, de entrada de galeria, enche-se de gente de fora do bairro e cria o maior burburinho. Mas não é preciso festa para o Bar do Lula ficar movimentado. A cozinha à mostra, logo atrás do balcão, deixa claro até para o visitante desatento que comida ali é coisa séria. Pilotadas por dona Cleonice, esposa de Lula, as imensas e asseadas panelas produzem almoços caseiros de primeira, concorridos principalmente no fim de semana. Seu Lula, que está no bar há 30 anos e há seis virou o dono, às vezes, tem a ajuda do filho. Mas, via de regra, é só o casal mesmo que toma conta de tudo. Inclusive de reservar generosos dedos de prosa aos clientes mais assíduos, que não ficam um dia sem encostar um pouco no balcão. Entre eles Carlos Barbosa, dono da editora Batel, que descobriu no boteco um jeito simpático e econômico de propagar cultura.