Criticando Mosteiro

De uns tempos para cá, venho resgatando o prazer de almoçar no Centro, naqueles restaurantes clássicos, sem chef de cuisine ou amuse bouche, que, alheios aos leitos, às espumas e a outras marolas que sacodem as cozinhas do mundo, continuam há décadas com os mesmos pratos do dia em cartaz. E que chegam exatamente como desde sempre. Nada de surpresas. Tem coisa melhor? O Mosteiro, restaurante de José Tinhorão, de 84 anos, pai do ministro da Saúde, José Gomes Tinhorão, existe há 45 anos. Os pratos da casa também. Pouco ou quase nada mudou ali. Ganhou uma adega, sinal dos tempos, recheada agora de garrafas de Cartuxa, Pêra Manca e Barca Velha, exemplares nobres da Terrinha. No menu, é possível até esbarrar com um estranho no ninho, como o medalhão com raiz-forte ou o bacalhau à Barack Obama. Este, só inova no nome: a base é uma só, leia-se posta alta, azeitonas, brócolis... O forte do Mosteiro é (e sempre será) a boa gastronomia portuguesa. Só de bacalhau, são 20 versões preparadas diariamente, todas feitas (inclusive o bolinho) com gadus morhua, o filé mignon do bacalhau. É um senhor restaurante, uma espécie de Antiquarius do Centro, e não apenas pela excelência da cozinha lusa: a frequência ali também se parece com a da casa do Leblon, com um desfile de notáveis pelos salões. Só tem figurão na casa dos Tinhorão! Tudo que servem é do bom e do melhor: o azeite, por exemplo, é E.A., exemplar excepcional da Fundação Eugênio de Almeida (mesma do vinho Pêra Manca). Com ele reguei meu bacalhau Mosteirinho: lascas grelhadas, douradinhas, servidas com cebola, brócolis, azeitonas e batatas, a R$ 69,80 (o Mosteiro, para dois, custa R$ 129,80). Maravilha. Meu amigo pediu o polvo (enorme) grelhado com arroz de açafrão, outro espetáculo (R$ 64,80). E rolou também uma provinha do arroz de pato (R$ 55,80). Acompanhamos tudo com um Alvarinho fresquíssimo (R$ 89,60), servido por seu Evaldo, que tem de casa o tempo que a casa tem.