Criticando Beco do Rato

Esta semana, meu blog lá na internet andou recebendo mensagens desaforadas de leitores mineiros inconformados com o fato de que eu jamais comera pastéis de angu. Eles tinham razão. Tratei de sanar a falha no único lugar possível para isso aqui no Rio: fui ao Beco do Rato, na Lapa, e descobri que o boteco é o embaixador oficial dos famosíssimos pastéis de angu de Itabirito, Minas Gerais. Os pastéis de angu, caro leitor, foram inventados há três séculos por escravos de uma fazenda daquela região, que costumavam aproveitar sobras de carne e banana para envolvê-las em massa de fubá de milho e assar a mistura em fornos improvisados com cupinzeiros. Aos poucos, a receita se transferiu da senzala para a casa-grande. Hoje, é um dos orgulhos de Itabirito, que é, veja você, a terra natal do simpático Márcio Pacheco, o dono do Beco do Rato. Há cinco anos, Márcio transformou o bar em embaixada de Itabirito no Rio. Não raro, costuma empregar itabiritenses que vêm tentar a sorte por aqui. Até as paredes da casa escondem referências à cidade. E é de lá que chega, toda semana, um carregamento exclusivo de pastéis de angu feitos com a receita original da legendária dona Milota. Recheados com carne-seca, frango com catupiry, queijo ou umbigo de banana - este último inspirado na receita original dos escravos - os pastéis de angu custam R$ 20, a porção. Fritos no óleo quente, como um pastel normal, combinam perfeitamente com a cerveja sempre gelada do Beco, que depois de uma reforma passou a ser abençoado por murais como esse aí da foto, reunindo Cartola, Pixinguinha, Noel Rosa e muitos outros mestres do samba, do choro e da boemia.