Criticando Bar Araponga

O teto do estreito corredor que liga o salão ao banheiro de poucos amigos expõe as entranhas engorduradas de uma construção centenária. Nada bonito, é verdade. Mas essas estruturas retorcidas e misteriosas são o esqueleto - e um pouco da alma - de um dos "comedores" mais antigos do Centro do Rio, que a revitalização cultural do entorno da Praça Tiradentes começa a revelar. É o velho Araponga, na sonora esquina dos barões assinalados da Rua Luis de Camões com o "Revérbero Constitucional" da Gonçalves Lêdo. Calma, caro leitor. O surto intelectual do colunista deve ser franca influência dos artistas dos centros culturais Hélio Oiticica, Bidu Sayão e Gentil Carioca, mais os estudantes do IFCS, que todo fim de tarde costumam trocar as salas, os estúdios e ateliês das imediações para conversar e comer churrasquinho, frango a passarinho e iscas de fígado acebolado com cerveja nas mesinhas vermelhas da simpática varanda sombreada do Araponga. Lá dentro, no salão antigo que só lota na hora do almoço, outras mesas - estas amarelas - rivalizam com engradados e geladeiras que se espalham até a cozinha. Na parece azulejada, um curioso relicário guarda quinquilharias nonsense onde outrora houve um mostruário de tabacaria. Como diria minha filha, "bizarro". O que, no linguajar dos jovens de hoje, significa algo, de certa forma, muito interessante.