Criticando Trapézio

Adoro reclamar da cidade. Se tem uma rodinha falando das nossas mazelas, estou dentro. No meu repertório de queixas, a mesmice dos bares ocupa posição de louvor. Pois bem, no começo da semana, conheci o Trapézio, aberto há um mês e meio em Botafogo. E tive uma das mais gratas surpresas desde que comecei a escrever esta coluna, há seis anos. Carreguei meu bom e fiel amigo Dudu, homem de gostos singelos que sempre preferirá um belo croquete de carne à espuma de foie gras. Sente só a reação dele ao chegar e perceber o ambiente contemporâneo do bar: "Aqui não vai rolar croquete, né?". Fui logo pedindo o que me pareceu mais próximo do universo de bolinhos e afins, os crocantes de queijo com azeite de ervas e alho (R$ 8). Finos, quase transparentes, são servidos em um copo, como tudo ali. Animado, Dudu se deleitou com o sanduíche do dia (R$ 14), que, como diz o nome, nunca é o mesmo. Mais animados, pedimos os incríveis pinchos de pollo al ajillo com molho de sangria (R$ 14). E caipivodca de banana (gengibre, vodca de baunilha e gelo de água de coco, a R$ 14, a pequena). Tudo criação da jovem chef Dolores Rezende, ex-Le Pré-Catelan. Ao sair, Dudu já estava achando adoráveis a mesa coletiva em formato de X, a área bem mais escura do bar (com mesas para dois) e o mezanino, com direito a sofás e cadeira de balanço. Em tempo: como o Meza, logo ali do lado, o Trapézio me pareceu um tipo raro de bar no qual a palavra "contemporâneo" não se traduz por "pretensioso" ou "posudo". Ufa!